sábado, 30 de outubro de 2010

"Tropa de Elite 2"

Assistindo a brilhante sequência do filme "Tropa de Elite", tenho a certeza ainda maior de que Capitão Nascimento, agora Coronel Nascimento, permeia o imaginário de cada cidadão de bem nesse nosso país. Ele é a síntese do herói que precisávamos encontrar na história tão triste do nosso Brasil. Enquanto em "Tropa de Elite" Capitão Nascimento luta contra os bandidos, e traz de volta a admiração pela polícia de elite carioca , agora Coronel Nascimento luta contra um inimigo muito maior.
Nos causa profunda tristeza em relação ao futuro de nossos entes queridos frente a toda essa sujeira em que estamos mergulhados. Não se trata de um maniqueísmo apenas entre as grandes esferas do poder. Qualquer cidadão de bem que se propõe a fazer algo para mudar essa situação, seja um professor, um médico ou qualquer outro profissional, se depara com o Sistema.
Ótimo filme, nos faz pensar sobre nós mesmos enquanto cidadãos e construtores de um país melhor para as futuras gerações.

"Passamos por um período em que nossos heróis acabam sempre mortos(...)
para um outro tempo em que os heróis nem sequer nascem.(...)
O que queremos e sonhamos
é uma pátria e um continente que já não precisem de heróis."
Mia Couto, Pensatempos apud DUTRA, Robson. Pepetela e a elipse do herói. Rio de Janeiro: UEA, 2009.

Editora Flâneur

Achei muito interessante descobrir que uma editora carioca acaba de estrear esse mês no mercado.
Mas o mais interessante para mim foi o nome da editora, ela se chama FLÂNEUR.
Uma grande coincidência, já que estou descobrindo este personagem pelo olhar de Baudelaire e Benjamin.
E ainda este ano a editora lança com a organização de Victoria Saramago, "Escritores escritos", onde alguns autores, entre eles Edgar Allan Poe, tornam-se personagens de escritores brasileiros.

Fonte: Jornal O Globo, caderno Prosa &Verso, 16.10.2010

domingo, 24 de outubro de 2010

Foram as dores que o mataram

Não importa o dia. Nem importa mesmo o ano em que se conheceram. Aconteceu. E houve um momento em que se amaram. Talvez tenha havido muitos momentos em que se amaram.
Depois a rotina de vidas que se afastaram e, incompreensilvemente, continuam juntas. E, dramaticamente caminham juntas, num desafio permanente à vida, à morte, ao direito de viver.
Não matei o meu marido.
Eu amava-o. Por quê matá-lo?
Foram as dores do meu corpo que o condenaram. Foram o sangue pisado, o ventre moído, as feridas em pus.
Foram as pancadas de ontem, as de hoje e, sobretudo, as pancadas de amanhã que o mataram.
Eu amava-o. Por quê matá-lo?
Foi o meu corpo recusado e dolorido após o uso e os abusos. Foram a tristeza, o desespero e a dor o amor que não tinha troco.
Eu amava-o. Por quê matá-lo?
Às vezes ficava à janela, meio escondida, vendo-o partir para o trabalho com a roupa que eu lavara e engomara.
Gostava do seu modo de andar, do jeito como inclinava a cabeça. Via-o partir e ali ficava horas e dias à espera que voltasse e me trouxesse um riso e a esperança de que as coisas iriam mudar. Nesse dia não lembraria mais os tempos duros, os paus de pedra que me roíam e me desgastavam as entranhas. Mas para mim, não voltava nunca. Apenas para pedaços do meu corpo que esquecia logo.
Eu amava-o. Por quê matá-lo?
Ele matou-se. Criou um espaço onde coabitavam a violência, a destruição, a miséria, o animalesco. E nós.
Deu-me as armas e fez-me assassina.
...depois ficou tudo escuro.
E o corpo a doer, a doer, a...
Um soluço frágil absorve a última palavra.

In: SALÚSTIO, Dina. Mornas eram as noites. Instituto Camões, Colecção Lusófona. 1999.


# 3

(RE)começo
Medo
(RE)vejo a estrada
Novas lembranças
Antigas esperanças
Animal Físico-Químico
Inconstante
Hoje condensação
Amanhã
VAPOR
              (iz)
                   AÇÃO.

Valéria Lourenço.
24.10.2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Amigas

Ah os amigos...
Você considera um privilégio tê-los ou escolhê-los?
Pois você se enganou.
Eles nos escolhem, e essa é a melhor parte, geralmente um motivo faz com que uma pessoa se aproxime de você, uma escola, um ponto de ônibus, um ônibus, uma locadora, uma universidade, uma casa perto da sua, mas são vários os que fazem com que essa admiração seja eterna.
Eu por exemplo tenho amigas de vários tipos, amigas de infância, essas me lêem sem eu escrever, e amigas que estão em construção. Mas sabe que às vezes essas categorias se confundem?!
Tenho uma amiga que faltam palavras para que ela se expresse, uma que fala com as mãos e uma que não fala, mas eu já posso lê-la. Tem uma que está sempre com os olhos úmidos, uma que nunca vi chorar, uma que já choramos juntas e uma que só me faz sorrir. Tem uma que acabou de entrar na maioridade e é mais madura que eu, uma que já tem 80 anos e é uma eterna criança, uma que está (re) começando a viver, uma que acabou de voltar para a escola, uma que já é professora de Literatura e não sabe e uma que o inimigo treme cada vez que ela se levanta da cama. Ah!  Eu não poderia jamais descrever as características de cada uma delas, elas são camaleoas, mas uma coisa todas elas têm em comum, são mulheres que me inspiram sempre, que me mostram que a vida é muito mais, e cada vez que penso em desistir lembro-me de cada uma delas, e de que o meu mundo não seria perfeito sem essas minhas amigas.  E o mais gostoso é que ainda tenho amigas que descobrirei e encontrarei ao longo da vida.
Obrigada Meninas super-poderosas.

Valéria Lourenço.
20.10.2010

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tempo

Apaga
Cura
Renova
Molda
Transforma
Lapida
Dilacera
Acalma

Valéria Lourenço.
11.03.2010

Poema ainda sem nome

Essa sede e angústia,
Inquietam dia após dia
A imaginação a flutuar
A mente em profundo vagar

Não sou daqui, não me pertenço
Mas quando menos espero
Envias-me um simples gesto
Volto à vida e a viver

E sei que aqui estou agora
Mas onde o tempo me levará
Nunca saberei dizer.

Valéria Lourenço.
11.03.2010.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Eu e o outro – o invasor ou em poucas três linhas uma maneira de pensar o texto - Manuel Rui.

Comunicação apresentada no Encontro Perfil da Literatura Negra. São Paulo, Brasil, 23/05/1985.*


Quando chegaste mais velhos contavam estórias. Tudo estava no seu lugar. A água. O som. A luz. Na nossa harmonia. O texto oral. E só era texto não apenas pela fala mas porque havia árvores, parrelas sobre o crepitar de braços da floresta. E era texto porque havia gesto. Texto porque havia dança. Texto porque havia ritual. Texto falado ouvido visto. É certo que podias ter pedido para ouvir e ver as estórias que os mais velhos contavam quando chegaste! Mas não! Preferiste disparar os canhões. A partir daí comecei a pensar que tu não eras tu, mas outro, por me parecer difícil aceitar que da tua identidade fazia parte esse projeto de chegar e bombardear o meu texto. Mais tarde viria a constatar que detinhas mais outra arma poderosa além do canhão: a escrita. E que também sistematicamente no texto que fazias escrito inventavas destruir o meu texto ouvido e visto. Eu sou eu e a minha identidade nunca a havia pensado integrando a destruição do que não me pertence.

Mas agora sinto vontade de me apoderar do teu canhão, desmontá-lo peça a peça, refazê-lo e disparar não contra o teu texto não na intenção de o liquidar mas para exterminar dele a parte que me agride. Afinal assim identificando-me sempre eu, até posso ajudar-te à busca de uma identidade em que sejas tu quando eu te olho, em vez de seres o outro.

Mas para fazer isto eu tenho que transformar e transformo-me. Assim na minha oratura para além das estórias antigas na memória do tempo eu vou passar a incluir-te. Vou inventar novas estórias. Por exemplo o espantalho silencioso que coloco na lavra para os pássaros não me comerem a massambala passa a ser o outro que não fazia parte do texto. Também vou substituir a surucucu cobra maldita. Surucucu passa a ser o outro. E a cobra no meu texto inventado agora passa a ser bela e pacífica se morder o outro com o seu veneno mortal.

E agora o meu texto se ele trouxe a escrita? O meu texto tem que se manter assim oraturizado e oraturizante. Se eu perco a cosmicidade do rito perco a luta. Ah! Não tinha reparado. Afinal isto é uma luta. E eu não posso retirar do meu texto a arma principal . A identidade. Se o fizer deixo de ser eu e fico outro, aliás como o outro quer. Então vou preservar o meu texto, engrossá-lo mais ainda de cantos guerreiros. Mas a escrita? A escrita. Finalmente apodero-me dela. E agora? Vou passar o meu texto oral para a escrita? Não. É que a partir do movimento em que eu o transferir para o espaço da folha branca, ele quase morre. Não tem árvores. Não tem ritual. Não tem as crianças sentadas segundo o quadro comunitário estabelecido. Não tem som. Não tem dança. Não tem braços. Não tem olhos. Não tem bocas. O texto são bocas negras na escrita quase redundam num mutismo sobre a folha branca. O texto oral tem vezes que só pode ser falado por alguns de nós. E há palavras que só alguns de nós podem ouvir. No texto escrito posso liquidar este código aglutinador. Outra arma secreta para combater o outro e impedir que ele me descodifique para depois me destruir.

Como escrever a história, o poema, o provérbio sobre a folha branca? Saltando pura e simplesmente da fala para a escrita e submetendo-me ao rigor do código que a escrita já comporta? Isso não. No texto oral já disse: não toco e não o deixo minar pela escrita, arma que eu conquistei ao outro. Não posso matar o meu texto com a arma do outro. Vou é minar a arma do outro com todos os elementos possíveis do meu texto. Invento outro texto. Interfiro, desescrevo para que conquiste a partir do instrumento de escrita um texto escrito meu, da minha identidade. Os personagens do meu texto têm de se movimentar como no outro texto inicial. Têm de cantar. Dançar. Em suma temos de ser nós. ‘Nós mesmos’. Assim reforço a identidade com a literatura.

Só que agora porque o meu espaço e tempo foi agredido, para defender por vezes dessituo do espaço e tempo o tempo mais total. O mundo não sou eu só. O mundo somos nós e os outros. E quando a minha literatura transborda a minha identidade é arma de luta e deve ser ação de interferir no mundo total para que se conquiste então o mundo universal.

Escrever então é viver.

Escrever assim é lutar.

Literatura e identidade. Princípio e fim. Transformador. Dinâmico. Nunca estático para que além da defesa de mim me reconheça sempre que sou eu a partir de nós também para a desalienação do outro até que um dia e virá “os portos do mundo sejam portos de todo o mundo”.

Até lá não se espantem. É quase natural que eu escreva também ódio por amor ao amor.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Boas notícias para (nós) estudantes de Letras

Ao ler o Jornal O GLOBO de sábado, no caderno PROSA & VERSO, deparei-me com uma notícia  que causou-me tristeza e alegria. A reportagem discorre sobre alguns arquivos particulares de escritores, tradutores e críticos, já falecidos, brasileiros e que viveram no Brasil, no caso do húngaro Paulo Rónai. Esses arquivos guardam preciosidades como cartas de Alphonsus de Guimaraens Filho a Carlos Drummond de Andrade, traduções de Balzac, citações de Aristóteles, 173 cadernos com manuscritos e até um capítulo do livro "Formação da Literatura Brasileira" (1959), essa, grande obra de Antonio Candido.
Alegrou-me o fato de saber que os estudantes de Letras tem um vasto campo de trabalho, haja vista que os responsáveis por esses arquivos, em grande parte a família, tem grande interesse de vê-los como objeto de estudo de pesquisadores e fazem o que podem para manter centenas de cartas, manuscritos e livros à salvo.
Mas a notícia não soa tão animadora quando descobrimos que grandes centros de pesquisa, neste caso a Biblioteca Nacional e a Casa de Rui Barbosa, não podem receber todo esse material, pois não tem funcionários e estagiários suficientes para realizar esse trabalho.
Um desses arquivos, no caso de Paulo Rónai, já recebeu uma proposta da Universidade de Princeton - EUA, mas sua viúva, Nora Rónai,  achou imortante manter a obra no Brasil.
Temos nesse aquivos uma grande fonte de estudo não somente para a área de Letras, mas também de história e cultura em geral.
Espero que consigamos dar à esses aqruivos o valor que eles merecem, e que não seja preciso que outro  Theodor Koch-Grunberg, venha escrever nossa própria história para trazer-nos fontes de pesquisa para "nosso" Macunaíma.

domingo, 17 de outubro de 2010

Meu primeiro post no meu primeiro blog

Estou muito feliz em criar meu primeiro blog. Sempre tive grande desejo de passar para o papel os meus pensamentos, mas os medos acabavam por tolhir-me. Quero compartilhar com vocês que aqui se encontrarem, um pouquinho do que penso, minhas opiniões e dicas sobre eventos, livros e assuntos interessantes. Espero que esse blog seja um espaço de interação, espero crescer com cada crítica e  melhorar sempre. Ah, e o nome foi escolhido pela minha filha quando ela tinha ainda 7 anos. É issso! Sejam bem-vindas. "Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca." (Darcy Ribeiro)