quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Pixain

Em pequena era indiferente ter a pele da cor que tivesse/Mas a crueldade anda arrodiando a gente/e no de repente o fato se torna incômodo/sabão, esponja e força nos braços tentam trazer outra tonalidade à superfície,/talvez quem saiba, emergir o vermelho-sangue do coração bate-batendo-assim-assim/mas uma passadela em frente ao espelho/e mostra-se o lindo retinto/luzindo/ preparo o caldeirão fervendo com o líquido que me espera/banho de betume, piche, picha, pixain...

Valéria Lourenço (01/12/2011)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Índio-afro-branco descendente

 No navio viemos,
kalunga a nos buscar,
para construírmos um país
onde não tinhamos lugar
Nossa escola foi o pelourinho, Quando aqui chegamos
A senzala nos aguardava, o engenho nos chamava,
A liberdade nos espreitava,
Para os quilombos fomos marchando
Sem posses, Sem laços, Sem família,
raça impura, sem religião
Esse foi o argumento do branco
quando nos trouxeram num porão
Nossa religião, às escondias sobreviveu
Golpes disfarçados, rodopios rasteiros
num passo ritmado da cadência da dança,
capoeira nasceu
Muxoxo, Samba, Acarajé
Palavras que permeiam o dia-a-dia brasileiro
Estamos na comida, no folclore,
Na dança, no terreiro

Não há medo do novo
Novos desafios se (re) erguerão,
Encontraremos novos lugares,
Mas há mais de 100 anos foi abolida a escravidão?!
Uma lei para ensinar nossa história
Não apagar nossa memória, assim colocaram
Espaço na universidade, reservas de “generosidade”
Mas nosso saber está difundido,  querer, só a dignidade
Desde o navio negreiro,
Muitos pretos novos ainda hão de morrer,
Antes nos portos, e senzalas, agora, nas favelas,
Em muitas ruas e becos,
Avenidas e vielas

Por que quem olha do centro
Me chama de periferia,
Mas periferia pode ser você,
Tudo depende do olhar de quem vê
Negra cor, Cabelo pixaim
Sorriso de alegria tão igual a mim
África- mãe, Zumbi meu pai
Criaram um filho que crescendo vai
Vemos a vitória de um povo
Povo que nasceu vencedor
Sangue indío-afro-branco descendente
cafuso, mulato, confuso, brava gente, brasileiro por amor.

Valéria Lourenço.

P.S.: Esta poesia recebeu uma Menção Honrosa (22/11/2011) entre 187 poesias inscritas no X Concurso de poesia da Prefeitura Municipal de Duque de Caxias.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Confidência - Mia Couto

"Confidência"


Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça


Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno


Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci


Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos


No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Nube blanca

Branca nuvem chegaste,
Olhos dourados cintilando alegria
Palavras em compasso
Pensamentos em harmonia.

Primaveras que chegam juntas
Andam na contramão
Histórias infinitas
Sonhos na mesma direção.

Branca nuvem, onde andaste?
Só agora a encontrei
Estarás sempre perto
Nossos passos (in)certos
Mas por ti esperarei.

Valéria Lourenço.
19/06/2011 às 16 h

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

aMar o Mar

Como deve ser reunir todo o azul do mar em um único ser?
O frescor, a liberdade, a leveza
Ondas energizantes, que revigoram e balançam
O corpo trêmulo,
Palavras lavrando, umidificando a terra seca, desejosa de ser
Alimentada.
O mar se achega e de mansinho se apossa desse
Pedaço de deserto
Sendo capaz de fazer brotar da mais louca imaginação
A mais voraz admiração.

Valéria Lourenço 29/09/2011

domingo, 18 de setembro de 2011

Independência - 07/09/2011

(In) dependência
de valores, de beijos, de abraços, de carinhos
a janela do mundo está aberta, a porta da casa
derrubada, construindo, metamorfoseando, abandono a fôrma,
a forma,
a métrica?

Meu pé tem vida própria.


Valéria Lourenço.

domingo, 14 de agosto de 2011

Somália - África

Estados Unidos da América, supergrande prepotência
Crianças morrem de fome na África,
Europa,  raça pura, velho mundo,
Morrem de fome na África,
Insurreição árabe, o mundo de cabeça para baixo,
Fome na África,
a África continua embaixo.

Mulheres pretas, secas, olhos magros, choro sem lágrimas
O filho suga o leite que já não alimenta, pois o alimento
que um dia tiveram, foi sugado por um povo superior
Por quê ajudar o que destruímos?

Crianças (...)
Crianças com bocas sedentas de algum líquido precioso
que jorre do chifre africano
Olhos nus repletos de esperança,
O líquido azul que salva o gado e cria a vida
Vai (...) espere meu doce infinito.
Não agora será tua aquela cova

De meus olhos jorram algum líquido inodoro e insípido,
repleto de vergonha.
A carne cortada pela vaidade, o meu futuro me aguarda brilhante (...)
Miserável. Ai de mim.
Seguiremos sempre aqui cantando com nossos egos,
seres supergrandes prepotentes
E tu?
Pra quando África?
Até quando África?

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Lembranças fugidias

Moisés sempre foi sonhador. Quando adulto tornou-se trabalhador, mas os sonhos... Ah, estes ele deixou cair pelo caminho.
Casado permaneceu com Maria, seu grande amor desde a tenra idade, por mais de 60 anos. Juntos construíram uma linda família, perdeu uma única batalha na vida: o filho para as drogas. Mas ainda assim, com uma vida humilde, seguiam cada qual sua função de cidadãos no mundo. Um casal amoroso com duas filhas e quatro netos.
Mas uma hora a mente cansa. E o primeiro sinal de cansaço muitas vezes não se dá no corpo, mas sim na alma, na memória. Conversar com o Sr. Moisés era sempre tão bom. Ele sempre a contar histórias sobre sua vida na roça, a construção de sua modesta casinha e a alegria de estar vivo mesmo quando muitos dos seus já se foram. As tristezas do mundo iam preenchendo aquela cabeça branca e aqueles olhos já exaustos de tanta miséria em sua volta. Um dia, não sabemos se por vontade própria ou pelo cansaço da mente, Moisés já não se lembra mais do caminho de sua casa. Este lar, que até então, com seus 83 anos, era um porto-seguro quando vinha das suas andanças - ele sempre foi dado a caminhadas – agora se transformara num lugar desconhecido. Passava em frente ao seu portão e já não entrava, pois não se sentia mais pertencente àquele lugar.
Os sonhos de ganhar o mundo voltaram, mas agora já era o corpo que estava cansado. Saía de ônibus pela manhã e não chegava. A família, que sempre fora muito conhecida da região, acabava recebendo-o em casa pelas mãos de alguma alma caridosa que reconhecia aquele velho negro de cabelos brancos de algum lugar de sua infância. As saídas foram ficando mais frequentes, mas as chegadas cada vez mais demoradas. Não havia tantas almas caridosas assim no mundo e o velho Moisés não era tão conhecido a ponto de rodar todo o Rio de Janeiro e ser reconhecido todo o tempo.
Para aquela que foi sua amada durante mais de sessenta anos, a decisão a ser tomada foi difícil mas necessária: privar da liberdade o homem com quem ela viveu por mais de meio século. A tarefa árdua coube a ela, a única de quem ele não esquecia o nome. E ali, trancado num quartinho nos fundos da casa, ele gemia. Gritava e implorava por socorro ao mesmo tempo em que dizia lindas palavras de amor para o amor de toda a sua vida.
Ali, longe do mundo e de suas andanças, o coração parecia parar, acalmar-se, e acalmava-se tanto, a ponto de ele recordar-se de coisas de sua infância. Chamava pela mãe, pelo pai, pelos irmãos que já não se encontravam neste plano terreno, mas era incapaz de reconhecer o rosto da filha que ia levar-lhe o calmante.
A família chorava. Lágrimas conjuntas de esposa, filhas e netos. A dor era insuportável para todos. Decidiram, devido ao grande amor que sentiam por ele, interná-lo numa casa que tivesse o tratamento adequado para lembranças fugidias.
O pobre Moisés, parecendo perceber o que estava por vir, decidiu acalmar-se neste dia. Jurou, ouvindo as conversas decisivas que vinham de dentro da casa, que não gritaria mais, porém os nomes ainda era incapaz de lembrar.
Pediu por socorro durante toda aquela noite. Pela manhã, finalmente a alma descansou.

Texto produzido para o curso de compreensão textual - CEEP/UFRRJ/IM

Imperialismo cultural – Adriana Lisboa


A vida íntima
de uma menina de dez anos
na Somália (Somália é qualquer lugar
neste mundo, neste mesmo mundo):
o clitóris e os lábios vaginais são decepados
a menina é costurada em seguida, deixando-se
apenas uma pequena abertura para a urina e a
menstruação
a menina é imobilizada até que a pele grude
entre suas pernas
e no dia em que estiver pronta para o sexo
seu marido
ou uma mulher respeitada na comunidade
vai abri-la de novo, cortá-la
como se corta uma fruta, como se corta
a aba de um envelope que traz um documento
importante
como o avião corta a nuvem
como a nuvem corta o céu.

O Globo - Caderno Prosa & verso 30/07/2011

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O louco - Khalil Gibran

 

            Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:

            Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
            Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
            E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
            Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
            Assim me tornei louco.
            E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

 

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O homem e o outro


A história da humanidade é marcada pela suposta supremacia de uma “raça” em detrimento de outra. A dicotomia “inferioridade versus superioridade”, sempre foi um pressuposto para que o colonizador de ontem e o de hoje nadificasse o ser humano e tornasse este, produto de manipulação daquele. Nos dias atuais, o homem ainda coisifica o seu semelhante e tem a cada dia exterminado sua própria espécie.
Durante a evolução do homem, o outro sempre foi o ponto de partida para grandes catástrofes que tingem de vermelho a história do homem sobre a Terra. As grandes guerras mundiais e o nazismo de Hitler, a escravidão dos africanos, o extermínio dos indígenas, o apartheid sul-africano das décadas de 70 e 80 e o apartheid mundial da atualidade. Todos esses eventos foram, e são, frutos de uma mentalidade do colonizador onde o outro sempre foi visto como nada.
A triste constatação se dá pelo fato de que o colonizador, não é mais o branco ou o capitalista imperialista. Mudando nossa perspectiva do modo macro e trazendo-a para o micro social, perceberemos, com nitidez, que o fenômeno de banalização da vida humana está presente ao nosso redor durante todo o tempo. E suas conseqüências têm tido efeitos graves em nossa sociedade hodierna.
Diariamente os exemplos dessas consequências nos chegam através dos noticiários. Pais que assassinam seus filhos, filhos assassinando pais, políticos assaltando cofres públicos e assassinando milhares de pessoas nas filas dos hospitais e o futuro educacional de milhares de crianças. Jovens de classe média que se sentem no direito de agredir uma mulher por conta de uma suposta impressão de que esta poderia ser uma prostituta e ainda agridem, como se estivessem participando de uma simples brincadeira, alguém que não tem a mesma opção sexual que eles, são alguns dos exemplos tristes e próximos.
Ora, vimos que nada mudou desde os séculos passados até agora. Poderíamos deixar que o “homem das cavernas”, os indígenas, os nativos das tribos africanas, ensinassem para  nós, homens “desenvolvidos”, como  (con)viver em sociedade de forma “civilizada”, respeitando o  próximo.
Enfim, a partir do momento em que o homem olhar o seu próximo não mais como o outro, mas como uma extensão de tudo o que ele é, e se permitir misturar e intercambiar experiências, não haverá superiores ou inferiores, seremos iguais, e começaremos então a repartir o pão, sentaremo-nos em rodas para que um griot conte-nos uma história, faremos pinturas corporais como símbolo do amor, e utilizaremos, também, a escrita para (re)escrevermos a nova história da humanidade.


Texto produzido para o curso de compreensão textual - CEEP/UFRRJ/IM
Tema: A nadificação do outro
A vida,
amiga
menina maravilhosa,  me acompanha aonde quer que eu vá.
Cheia de luz e brilho a mostrar caminhos pelos quais posso andar,
amiga perfeita não és,
que me importa?!
Quero o dó do ré,
escrever a história que não foi contada,
ponte para unir mundos distintos
Sem o amor não quero nada
Lugar para descansar não faltará
o mundo  sob minha cabeça
A(s) paz(es) ao meu lado a me acariciar
O amor ... um pouco longe,
guardei no coração

Querer...
tudo
só não a razão.

Valéria Lourenço.
Maio/2011

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Quando um guerreiro parte (Abdias Nascimento)

Quando parte um guerreiro
O que se há de fazer senão cantar-lhe
Os cânticos de guerra que entoava?

O que se há de fazer
Senão soar os tambores que soava
Chacoalhando-lhes as soalhas
Aos ouvidos moucos da pequenez
E da indiferença
Para que todos saibam
Que um Herói ali vai ?!

O que se há de fazer
Senão imaginá-lo
Transpondo
Os limites da existência palpável
Para, novinho em folha,
Começar tudo de novo
Do outro lado do Tempo?

ADEUS, QUERIDO MESTRE!!!

Abdias Nascimento (1914 – 2011)

NL

Texto retirado do blogue: meu lote - Nei Lopes (http://www.neilopes.blogger.com.br/)

sábado, 21 de maio de 2011

Severina

Nossos olhares encontraram-se. E um simples sorriso foi o suficiente para que ela se sentisse à vontade e se sentasse ao meu lado no ônibus.
Por coincidência, desceríamos no mesmo local. A conversa então teve início.
Ali estava ela, uma senhora de olhar doce, voz singela e palavras firmes. Deixei que desabafasse, algo me dizia que ela precisava disso há muito tempo. E então ela contou-me um pouco de sua história. Mãe de 6 filhos, com 16 netos, 2 bisnetos, cuida de um marido acamado há 11 anos e agora descobriu que a doente é ela: está com um câncer.
A palavra “feia” que muitos têm medo de pronunciar, ela também não pronunciou. Continuou... Os filhos não têm paciência com o pai doente, e ela tem medo de morrer e deixá-lo sozinho, pois teme que os filhos o coloquem num abrigo. Aliás, eles já avisaram que o farão.
Sei que deve estar achando esta história muito triste, eu também estava, mas como o ser humano é surpreendente, num lapso de tempo, ela me dá a chave para que a conversa ganhe um novo tom: “Minha filha – seus olhos brilharam, temos que ter mais amor. A humanidade não tem mais paciência nem tolerância com o outro”, foram suas palavras. Em poucos minutos meu coração encheu-se de esperança. O amor, o amor...
Ela, sentindo-se tão bem em ter ali uma interlocutora que só a compreendia com o olhar, as palavras não saíam, a preferência era dela,  abriu sua bolsa, mostrou-me seus remédios, o cartão do SUS, tinha consulta marcada no dia seguinte e por fim, não sei o porquê, mostrou-me sua carteira de identidade. E eis que vem a surpresa, ou coincidência, ou destino, eu prefiro chamar de Deus.
Seu nome: Severina, sim, Dona Severina, vida Severina.

Dedico esta história a todas as mulheres Severinas que conheço. A vocês que apesar das lutas e adversidades do dia-a-dia, me dão ânimo, força e vontade de seguir em frente. A vocês que me inspiram. E em especial : Nívia e Tânia.
Esta história é real, vivenciei numa quinta-feira (12/05/2011) no ônibus Nova Iguaçu – Central.

sábado, 30 de abril de 2011

Philos

Platão negro,
plano das ideias perfeito
Olhar...
Pulsa (a)ção
Lugar improvável
Filosofia, café
Tremor
Interprete a ação
Fela,
descreverias esta percussão?
Olhar...
desejo,
alucinação

Valéria Lourenço.
19.04.2011

Flor de Lis

Nome de flor recebeste,
Teu lar, agora um jardim.

Lis (Liz),
Doce lírio,
Verás que na vida,
Serás eterna aprendiz.

Um Jardim secreto
cercado de amor e
sorrisos,
Flor,
Aguarda teu caminhar.

Seja Deus teu juiz,
E a paz tua diretriz.

Valéria Lourenco.
02.02.2011

terça-feira, 12 de abril de 2011

Caio...sempre Caio

E se realmente gostarem?
Se o toque do outro de repente for bom?
Bom, a palavra é essa.
Se o outro for bom para você.
Se te der vontade de viver.
Se o cheiro do suor do outro também for bom.
Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons.
O pé, no fim do dia.
A boca, de manhã cedo.
Bons, normais, comuns.
Coisa de gente.

Caio.F.Abreu


Extraído do blogue: http://hanexosemnexo.blogspot.com/

sábado, 9 de abril de 2011

Nossas vozes

Esbraveje
Sim, eles te ouvirão
Aquela paz que andaste a procurar, encontrarás no momento em que o grito
transpassar tua garganta.
Tantas são as vozes que ecoam neste mundo, gritos de dor, fé,
esperança, murmúrios que se pretendem linguagem, olhares à espera de uma tradução.
Leitores do mundo quanto tempo ainda esperarão para fazer a parte que lhes cabem?

Levar voz aos que não têm voz,
Unir tuas vozes aos sussurros
deste Mundo,
Orfanato cruel,
Crianças carentes com fome de amor,
Incapazes de dormir sem o beijo da mãe que nunca chega
À espera de uma voz
E o grito de dor tornar-se-á canto de esperança

#10

Lágrimas...
Recuso-me a deixar que caiam do meu rosto
Sentimentos
Recuso-me a expressá-los
Abraços
Recuso-me a doá-los
Palavra
Recuso-me a proferi-las,
 Não têm interesse em ouvir
E assim vivendo a vida mesquinhamente,
Passando os dias,
Sem tormentos,
Ou lamentos
Definitivamente sem momentos.
Desse jeito sou incapaz,
não agüento.

domingo, 27 de março de 2011

Complemento ao post anterior - Daily observations

Como profunda admiradora da obra limabarretiana, não poderia deixar de citá-lo em complemento ao post anterior.
Lima já tinha a exata dimensão do fascínio que a língua inglesa causava entre nosso povo.

"Percebeu Mme. Barbosa que lidava com os ingleses e, com essa descoberta, muito se alegrou, porque como todos nós, ela tinha também a precisa e parva admiração que os ingleses, com a sua arrogância e língua pouco compreendida, souberam nos inspirar."

Conto: Miss Edith e seu tio in BARRETO, Lima. Os melhores contos. São Paulo - SP: Editora Martim Claret. 2010.

sábado, 26 de março de 2011

Daily observations

Não é nenhuma novidade que a língua inglesa tem invadido cada vez mais o nosso vocabulário.
O uso de estrangeirismos promove um intercâmbio na linguagem, isso pode até ser saudável. Mas, o problema maior é quando apesar de termos palavras suficientes em nossa língua usamos palavras estrangeiras, principalmente o inglês, exageradamente. Estou parafraseando meu professor de língua portuguesa Fernando Vieira que sempre cita esse assunto em aula e também meu esposo Emanuel Carvalho que sempre cita esse assunto em casa.

Tudo bem, já li e até me acostumei com o uso de shopping center, blog, home page, feedback, mas nessa última semana senti um medo ao ver a proporção que as coisas estão tomando. Na Via Light, Nova Iguaçu, tem uma igreja em que as letras garrafais anunciam: "ALFA & OMEGA - with Jesus we are more than winners.", e agora digitando esse texto acabo de ouvir na rádio evangélica que ouço com frequência "(...) a igreja que tem the lions face". Oh my God, quero dizer, Oh meu Deus, parace que  Deus está cada vez mais globalizado, e só atende agora por palavras em inglês.
Isso me preocupa, pois sou evangélica e ainda não domino essa segunda língua tão bem assim.

Brincadeiras à parte, o uso de estrangeirismos acaba sendo usado como forma de  discriminação, pois a língua  é  poder. Quando em uma palestra, uma reunião, um cartaz, alguém usa termos em inglês indiscriminadamente acaba fazendo com que seu interlocutor, caso ele não domine os idiomas utilizados, não compreenda corretamente a mensagem, e  acabe sentindo-se diminuído. Parece que até o meio evangélico está fazendo uso dessa "arma".
Que possamos rever nossos conceitos.

Ah, a tradução do título da postagem é: Observações diárias.

Valéria Lourenço. 26.03.2011

Hino ao amor

1 Eu poderia falar todas as línguas
que são faladas na terra e até no céu,
mas, se não tivesse amor, as minhas palavras seriam
como o som de um gongo ou como o barulho de um sino.
2 Poderia ter o dom de anunciar mensagens de Deus,
terr todo o conhecimento,
entender todos os segredos e ter tanta fé, que até poderia tirar
as montanhas do seu lugar,
mas, se  não tivesse amor, eu nada seria.
3 Poderia ter tudo o que tenho
e até mesmo entregar o meu corpo para ser queimado,
mas se eu não tivesse amor, isso não me adiantaria.




1 Coríntios cap. 13 versos 1 ao 3

Bíblia Sagrada ilustrada. Barueri (SP): Sociedade Bíblica do Brasil. Curitiba (PR) :Editora Luz e Vida, 2006.

Um túmulo para Nova York - Adonis

1
(...)

Nova York,
corpo da cor do asfalto. Em torno da cintura faixa úmida, o rosto janela fechada...eu disse: abre-o Walt Whitman - "digo a senha primordial" - mas só a escuta um deus já fora do lugar. Os prisioneiros, os escravos, os desesperados, os ladrões, os doentes precipitam-se de usa garganta, e não há saída, não há caminho. Eu disse Ponte do Brooklyn! Mas é a ponte que liga Whitman a Wall Street, a folha-grama à folha-dólar...

(...)
Nova York - WALL STREET - RUA 125 - 5ª AVENIDA
Fantasma medúseo se ergue dos ombros. Mercado de escravos de todo  tipo. Pessoas vivem como plantas em jardins de vidro. Miseráveis invisíveis interpenetram-se como a poeira no tecido do espaço - espiral de vítimas.

O sol é funeral,
o dia, tambor negro.

"Um túmulo para Nova York", do livro "Este é Meu Nome (1970-1980)" - Adonis* , inédito no Brasil. Tradução de Michel Sleiman.
Fonte: Jornal O globo, Caderno Prosa e Verso - 19/03/2011

*Adonis é o pseudônimo do escritor sírio Ali Ahmad Said Esber.

Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o abismo e o perigo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa, in Mensagem.

Unicidade

Só vou saber que te esqueci
quando a balança
mostrar apenas o meu peso

Por enquanto,
me imaginar sem ti
é olhar meus braços
e não estarem aqui

É olhar-me no espelho
e não nos ver

Só vou saber que te esqueci
quando me tocar
e não mais te sentir.

Rossyr Berny

domingo, 6 de março de 2011

Economia criativa

Dia 04/03/2011 assistindo ao programa Sala de Notícias, Canal Futura, deparei-me com uma entrevista de Lala Deheinzelin. Tudo bem que o sobrenome é complicado, e parece de artista estrangeira, mas essa economista brasileira de conversa amigável mostrou ao longo da entrevista pontos que podem ser mudados no nosso país quando o assunto é desenvolvimento sustentável e economia criativa, termo novo para mim até este momento.
Lala, que é do Movimento Crie Futuros, falou de forma simples sobre conhecimento e criatividade. Segundo a economista, no século passado nós tínhamos a economia da escassez, com ouro e riquezas e agora, no século XXI, descobrimos que a indústria criativa, e consequentemente a economia criativa está em primeiro lugar.
A economia criativa caracteriza-se pelo capital social. No nosso país ainda temos falta de capital social, há muitas pessoas fazendo muitas coisas separadas, falta a capacidade de agir de maneira integrada, pensando no coletivo. Essa seria a chave do nosso desenvolvimento.

Lala nos alerta que a “galinha dos ovos de ouro” do novo milênio é a diversidade cultural. E o Brasil como um país rico nesse sentido tem de aprender a fazer uso dessa ferramenta tão farta que possui, e não matar sua “galinha” como tem feito. A diversidade cultural está inteiramente ligada à autoconfiança, e esta por sua vez, ligada à auto-estima. Item ainda em escassez no nosso país.


Uma das grandes dificuldades que temos em atingir estes ideais de desenvolvimento e auto-estima é o simples fato de que as coisas essenciais a essa nova era são intangíveis. Não temos ainda medidores qualitativos para saber quando um trabalho social tira um jovem da rua, muda sua vida e o torna um cidadão de bem. Nossos medidores ainda são quantitativos.
Ainda está sendo criada uma moeda de troca (escambo) para o intangível.
Temos um belo exemplo no Festival Calango* (Cuiabá), onde eles já se utilizam da economia criativa e aceitam o Cubo**, uma moeda válida em 25 dos 27 estados brasileiros.

No entanto, a economista é otimista ao ressaltar que quando pensavam o  futuro mundial há muitos anos atrás, os estudiosos viam um lugar cinzento, egoísta e belicoso, mas surpreendentemente temos notado que o futuro pode ser mais verde, mais integrado, plural, miscigenado e mais, muito mais pacífico.


Isso é o futuro.

Michel Serres tem razão, viva a nossa miscigenação.

Fonte: Sala de notícias. Canal Futura. 04 de março de 2011 às 20:30 hs.
Repórter: Cristina Amaral.
Entrevistada: Lala Deheinzelin (economista criativa -  Movimento Crie Futuros)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Querido Lima B.,

sua dor e sua luta ainda ecoam .
Desde que você se foi não mudou muita coisa por aqui.
Queria tanto comemorar seu aniversário este ano de forma diferente,
mas os trezes de maio têm sido sempre iguais.
Esqueci de contar-lhe que a efemeridade é uma das marcas dessa minha modernidade,
talvez seja esse o motivo de nosso esquecimento.
E por falar nisso, meu amigo anarquista, nos achamos tão modernos e livres, mas onde está essa liberdade que nunca chega?
Dê- me um pouco de sua força meu amigo.
Eu em  pleno século XXI e você daí, deste século retrógrado, me
expondo deste jeito, falando dos meus medos, da minha vida hipócrita e mesquinha,
da minha sociedade e dos nossos podres poderes.

Volta Lima,
volta através de nós.
Façamos da sua luta a nossa.

Valéria Lourenço.
21.02.2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Mubarak

África, Egito .
Some a essas palavras um povo oprimido há mais de trinta
anos pelo poder de um ditador, e que com o apoio da internet, essa "ferramenta" tão nova,
foi capaz de mobilizar milhares de pessoas.
Se o povo soubesse a força que tem!
Poder para o povo.
Caro Marx, você sempre falou dessa força.
Será que começaram a descobrir?
Que venham as próximas revoluções.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Doce mar

Sugue minhas forças
Oh grande Gigante,
Leia-se dentro dos meus olhos
És capaz de fazer de meu corpo um livro?
Camões há de invejar-te
Escrevamos nossa epopéia
Banhando-nos nas águas do Tejo
POSSESSIO MARIS
Tua Tétis,
Transformando em Ilha dos Amores
todas as tuas Tormentas.

Valéria Lourenço.
02.02.2011

Filhos

Choraram, eu sorri;
Sorriram, chorei;
Andaram,  parei;
Falaram, calei;

Crescerão,
Sorrirão,
Chorarão,
Andarão e voarão,
Mas sempre em meu coração estarão.

Sabedoria Materna

Mamãe sempre dizia que as chuvas eram as lágrimas de Deus.
Pensando bem mamãe, meu Pai deve estar muito triste com este
mundo, pois tem chorado bastante.


Valéria Lourenço.
18.01.2011

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Letras Impossíveis

Pelas ruas passam esquilos
roendo pedras e sussurros
milhafres de vozes aladas
espalham ventos invernosos.

Pelo fundo dos segredos
lemos letras impossíveis
adivinhos de incertezas
esperamos espadas de cinza
lentas sombras invisíveis.

Sofia Loureiro dos Santos

http://defenderoquadrado.blogs.sapo.pt/492079.html

domingo, 2 de janeiro de 2011

Presente de aniversário para uma grande amiga ( N. M.)

Minh’Alma, Alma minha,
Barroca, barroquinha,
Africana és Sofia,
Portuguesa, Florbela

Finca os pés no chão,
A cabeça anseia o céu,
Neste mundo de imensidão,
Faça uso do seu broquel.

És carne, mulher, desejo,
Não pense nos pecados minh’Alma
Deus te conhece desde o Alentejo,
Se entrega, se acalma.

Então agüenta alma minha,
Tu és pérola imperfeita,
Flor Bela de Alma, aceita,
Sempre serás barroca, barroquinha. 


30/12/2010 às 17:25 hs

sábado, 1 de janeiro de 2011

01/01/2011

Eis que você vem chegando.
E eu que esperei tanto tempo por isso, me empenho em escolher meu melhor sorriso,
e estar ao lado das pessoas que mais me fazem felizes.
Concentração, pensamento positivo, todas as forças canalizadas para as surpresas que
virão a partir de agora.
Frio na barriga. Sonhos. O novo me aguarda.
Medo?! Não. Ansiedade.
Se Deus acha que  mereço-te, quem sou eu para contrariá-lO?

E lá vem você...você chegou...
Seja muito bem vindo 2011!