quarta-feira, 25 de maio de 2011

Quando um guerreiro parte (Abdias Nascimento)

Quando parte um guerreiro
O que se há de fazer senão cantar-lhe
Os cânticos de guerra que entoava?

O que se há de fazer
Senão soar os tambores que soava
Chacoalhando-lhes as soalhas
Aos ouvidos moucos da pequenez
E da indiferença
Para que todos saibam
Que um Herói ali vai ?!

O que se há de fazer
Senão imaginá-lo
Transpondo
Os limites da existência palpável
Para, novinho em folha,
Começar tudo de novo
Do outro lado do Tempo?

ADEUS, QUERIDO MESTRE!!!

Abdias Nascimento (1914 – 2011)

NL

Texto retirado do blogue: meu lote - Nei Lopes (http://www.neilopes.blogger.com.br/)

sábado, 21 de maio de 2011

Severina

Nossos olhares encontraram-se. E um simples sorriso foi o suficiente para que ela se sentisse à vontade e se sentasse ao meu lado no ônibus.
Por coincidência, desceríamos no mesmo local. A conversa então teve início.
Ali estava ela, uma senhora de olhar doce, voz singela e palavras firmes. Deixei que desabafasse, algo me dizia que ela precisava disso há muito tempo. E então ela contou-me um pouco de sua história. Mãe de 6 filhos, com 16 netos, 2 bisnetos, cuida de um marido acamado há 11 anos e agora descobriu que a doente é ela: está com um câncer.
A palavra “feia” que muitos têm medo de pronunciar, ela também não pronunciou. Continuou... Os filhos não têm paciência com o pai doente, e ela tem medo de morrer e deixá-lo sozinho, pois teme que os filhos o coloquem num abrigo. Aliás, eles já avisaram que o farão.
Sei que deve estar achando esta história muito triste, eu também estava, mas como o ser humano é surpreendente, num lapso de tempo, ela me dá a chave para que a conversa ganhe um novo tom: “Minha filha – seus olhos brilharam, temos que ter mais amor. A humanidade não tem mais paciência nem tolerância com o outro”, foram suas palavras. Em poucos minutos meu coração encheu-se de esperança. O amor, o amor...
Ela, sentindo-se tão bem em ter ali uma interlocutora que só a compreendia com o olhar, as palavras não saíam, a preferência era dela,  abriu sua bolsa, mostrou-me seus remédios, o cartão do SUS, tinha consulta marcada no dia seguinte e por fim, não sei o porquê, mostrou-me sua carteira de identidade. E eis que vem a surpresa, ou coincidência, ou destino, eu prefiro chamar de Deus.
Seu nome: Severina, sim, Dona Severina, vida Severina.

Dedico esta história a todas as mulheres Severinas que conheço. A vocês que apesar das lutas e adversidades do dia-a-dia, me dão ânimo, força e vontade de seguir em frente. A vocês que me inspiram. E em especial : Nívia e Tânia.
Esta história é real, vivenciei numa quinta-feira (12/05/2011) no ônibus Nova Iguaçu – Central.