domingo, 4 de novembro de 2012

mães da lapa




senti sua vozinha fina do outro lado da linha. ainda não sei, mas imaginei um menino de cinco aninhos.
a mãe, sentou-se ao meu lado, em frente aos arcos da lapa. salto quinze e saia dez cm. sotaque do meu país.
a curiosidade infantil versava sobre diversas coisas:
- sim, filho, o rio é lindo!
- mamãe está morrendo de saudade!
- onde moro, com algumas amigas, ainda não há espaço para você.
- sim. mamãe está juntando dinheiro para você vir visitá-la.
- soube que você está rebelde na escola. obedeça  a titia.
a lapa se abrilhantou:
- em dezembro você virá conhecer o mar.
tomara que o natal desse ano será diferente.


v.l.

as estações





entraram no metrô. cinelândia. havia lugares no vagão, não era horário de pico. contra-fluxo, em direção à ipanema. ela, semblante angustiado, parecia aflita para continuar o diálogo que tinha sido interrompido pela chegada do trem. glória. ele, muito calado. ao menos naquele momento. catete. ansiosa, procurando sentar-se  rapidamente, olhou à sua volta e iniciou a conversa. ele lhe dizia algo que causava uma sensação que eu não conseguia decifrar: medo, raiva, tristeza, alegria, aflição. largo do machado.

chegava o meu local de desembarque, mas eu queria ver o desenrolar daquela história. flamengo. de repente, vi que parecia que aquele relacionamento havia durado um longo tempo e chegava ao fim. fim de página, linhas finais de uma história. botafogo. ela levanta os olhos, enxuga as lágrimas, fecha-o, guarda-o na bolsa e desembarca apressada.

v.l.

19/10/2012 no metrô central-ipanema